Mana

Uma das coisas que gosto de ler nas versões antigas do blog é o que escrevia antes da minha irmã nascer. O modo como as coisas estavam a correr, as idas da minha mãe às consultas e os meus planos para cada etapa da vida da bebé. Esperava ensiná-la a falar, a saber de cor os nomes dos planetas, a fazer baloiços com tábuas como eu fazia no Alentejo, a trepar a "Grande-Pedra" perto da casa da minha avó.

Passei a véspera do nascimento a tentar desviar o nervosismo, escrevinhando naquele que foi o primeiro dos 3 blocos de notas que mantenho desde então. Entretanto, chegou a minha nova irmãzinha. Cor-de-rosa, muito pequenina e com mãos enrugadinhas.

Esqueci todos os planos quando reparei que eles não estavam de acordo com as etapas normais de crescimento de um bebé. Não me pareceu que ela fosse ter uma conversa séria comigo aos 6 meses. O desapontamento nunca chegou a formar-se porque, entretanto, coisas espantosas aconteciam: ela ria-se às gargalhadas, ela falava com a sua imagem no espelho, ela cuspia a sopa de cenoura para ver as nossas reacções. Espontânea. Imprevisível. Eu divertia-me a vê-la a dormir e a organizar os mapas dos legumes que ela já tinha provado na sopa e a sua reacção a estes.

Hoje em dia, a Mariana come de tudo, raramente faz birra às refeições mas frequentemente entorna comida de propósito e espalha-a pelo seu lugarzinho. É uma menina muito eléctrica, sobretudo quando está perto do irmão. Não gosta de estar muito tempo quieta e sentada a brincar, mas fica praticamente hipnotizada a ver filmes ou videoclips no youtube comigo.

A Mariana é a minha desculpa para ver o Enchanted todos os dias e para poder cantarolar as músicas da Bela Adormecida sem me chamarem de louca. É também a minha parceira de Singstar que não se importa de cantar a parte do Aladdin enquanto eu desafino na parte da Jasmine.

 

A minha irmã tem muitos amigos, alguns dos quais são imaginários. Tem um gatinho chamado Tareco e brinca com criaturas de nomes engraçados todos eles habitantes do País dos Gatos.

Com os seus 3 anos é capaz de ser das pessoas mais altruístas que conheço. No outro dia enquanto estava a tomar conta dela, disse-lhe na brincadeira que se eu não estudasse, os meus professores me puxavam as orelhas e eu ficava como o Dumbo. Ela começou a empurrar-me para o escritório, a gritar para eu ir estudar, sem se importar por ficar sozinha na sala. Nunca come a última bolacha "para ficar para os manos" e se encontra algum cabelo meu no chão leva-o de volta para a minha cabeça porque não quer que eu fique careca.

Hoje lembrei-me de escrever isto pelo que ela fez há pouco. Amanhã tenho exame de Físico-Química e estava na sala a tentar transferir ficheiros para a calculadora enquanto ela via televisão. Quando puxei a persiana - com um grande historial de estragos - para cima, estraguei-a. O meu irmão e a minha avó decidiram dedicar-se à carpintaria e andaram a puxar para cima, a puxar para baixo, até aquilo ficar mais estragado e eu pedir-lhes para terminarem as tarefas. Voltaram aos seus cargos passados umas horas e eu decidi ajudá-los, afinal tinha sido eu a estragar. Estava a Babs com a sua roupa de estudo para exames - isto é, t-shirt rosa e calças amarelas - a puxar a persiana do lado de fora quando vê passar o carro da mãe à procura de estacionamento. A mãe chegou. Zangou-se por termos estragado e por termos tentado arranjar, prometendo castigos e conversas com o pai. A Mariana - que no meio das "obras" tinha estado estranhamente calma - desatou a chorar, a perguntar porque é que a mãe estava triste com os manos, a dizer que não queria que estivesse. Como era suposto, fui adormecê-la. Li-lhe uma história mais pequena e, em vez de ficar ali deitada até ela deslizar para o sono, pedi-lhe para me deixar voltar para a sala para ajudar no caso da persiana. Ela não choramingou nem ripostou. Disse-me "vai lá, depressa..." Prometi que depois voltava e dava um beijinho. Voltei à sala.

A persiana já está arranjada mas quanto ao exame, não sei se vai ser feito amanhã. Agora vou deitar-me e dar o beijinho prometido.


 

 


 Como o texto ficou enorme deixei metade "escondida".

Amanhã respondo aos vossos comentários do outro post. Desculpem o atraso.

Babs às 00:11
sinto-me: exame amanhã