Há já algum tempo que a minha mãe nos avisava - a mim e ao meu irmão - para reduzirmos a quantidade de doces que comíamos e se mostrava surpreendida com a rapidez com que um pacote de bolachas de chocolate desaparecia cá em casa.
Na altura do Natal decidiu tomar medidas drásticas: deixou-nos ficar com os doces que tinhamos recebido como presente de familiares ou amigos e confiscou os restantes que guardou num sítio secreto.
Os chocolates que me chegaram desde então foram trazidos periodicamente pela "menina das entregas", ou seja a minha irmã de 3 anos, a mando da minha mãe.
Ora, eu sabia que os doces estavam na cozinha - porque via a minha mãe fechar a porta sempre que era o momento das entregas. Claro que revistei a cozinha toda: procurei no cimo do frigorífico, na prateleira das chávenas, ao lado da tosteira, enfim... até me conformar com o insucesso desta busca.
Hoje, vi que a minha irmã estava sossegada na sala e entrei de rompante na cozinha com o intuito de a arrumar. Encontro a minha mãe em cima da cadeira a tirar uma caixa de bombons da nestlé do armário dos pratos.
Não fui capaz de dizer nada, nem de fazer uma grande festa por ter descoberto o esconderijo. Pedi para tirar um chocolate, comi-o, e entretanto a mãe saiu da cozinha. Não voltei a arrumar a caixa no ex-esconderijo secreto.
Deixei-a em cima da mesa: vou fingir que não descobri nada.
Às vezes, a ignorância é a melhor escolha.